quinta-feira, abril 14, 2011

(Em)presto-me...

Quando eu era pequenina, o molho de chaves da minha Mãe intrigava-me muito... deixava-me sempre a pensar como seria possível acumular tanta chave. Seriam todas úteis, ainda? Teria alguma ficado como recuerdo de um tesourinho qualquer?
Também me intrigava conhecer pessoas que haviam feito parte da vida dos meus pais e que, por um bom motivo quase sempre (outras nem por isso), tinham seguido um outro rumo. Tinham deixado de se ver regularmente e, pior, aceite que podiam viver uns sem os outros. É a vida!! dizia o meu Pai... mas eu não serenava, pelo contrário, ficava inquieta sem perceber como é possível apartar-se alguém de quem se gosta.
Mais difícil ainda era ouvir histórias tristes que marcaram a minha Mãe e ver o sofrimento dela ali, estampado no rosto, preso no corpo, presente numa memória tão fresca como se tivesse sido ontem... como se não fosse possível jamais apagá-lo.


Eu também já tenho um molho considerável de chaves. O ano passado atingiu o auge da sua existência mas agora que mudei de casa resolvi guardar umas quantas numa gavetas de coisas-supostamente-importantes-que-não-se-podem-perder-de-vista e ando com as que a senhoria me deu. Uma delas desconheço a sua fechadura. O mais importante deste parco conjunto é o coração que tem à volta, em formato de porta-chaves, oferta de uma aMiga como celebração da nova vida.
Amigos que vão ficando para trás... infelizmente habituei-me à ideia. E para não ter complexos de culpa, (porque é de facto humanamente impossível estar com toda a gente especial com que me vou cruzando), mais serena aceito o É a vida! longínquo do meu progenitor. Felizmente colecciono poucas histórias com unhappy end. Mas já acumulo algumas.
Tal como a minha Mãe, genética ou feitiozinho próprio, eu também sou permeável às injustiças e a dor... por vezes custa falar. (Em)presto-me a sentimentos que não consigo nomear... e espero que um dia a memória me atraiçoe o suficiente para os não mais recordar.


Aguento a espera, dolorosa.
E tranco a porta da casa para ninguém entrar...

1 comentário:

Gonçalo Maggessi disse...

Nem penses que algum dia me vou apartar de ti... é a vida... é a nossa vida!
Por isso, podes começar a habituar-te à ideia das bengalas, somos poucos dos originais... mas MUITO BONS!

beijo