sábado, setembro 19, 2009

"Haverá luz
sugada no escuro?
Será calor
o murmúrio do frio?
Terá amor
o avesso da vida?
Haverá sonhos
no fundo da dor?
Serão gritos
os cais do silêncio?
Será coragem
a tremura do medo?
Haverá chuva
que lave este sangue
e deixe que a terra acalme...
...devagar?

Esquece o medo
Sai do escuro
Abre comportas
Deixa gritar
Vai mais fundo
Persegue o mar
Persegue o mar

Será só
a vertigem do abismo?
Será mordaça
a leveza do pó?
Haverá negro
sugado na luz?
Haverá longe
por dentro de nós?
Ando sobre
uma aresta de gelo
Na vertigem
de um trapézio de fogo
Mas canta-me um pouco
na tempestade
e deixa que a terra acalme...
...devagar

Esquece o medo
Sai do escuro
Abre comportas
Deixa gritar
Vai mais fundo
Persegue o mar
Persegue o mar"

Mafalda Veiga


Já esqueci o medo, já saí do escuro. Estou a abrir comportas. Não consigo gritar. Só chorar. Não é fácil levar com as ondas... Passo por cima de umas, outras tento mergulhar bem fundo para não ser enrolada. Atrás de uma questão, outra. E outra e mais outra e mais outra. As respostas fazem-se na espuma dos dias... um título de Boris Vian.
Não há volta a dar. É sempre difícil recomeçar. As memórias prendem-nos, como ramos de uma margem a que nos queremos muito agarrar. E no meio de tanta partilha e alegria... saber que... sentir que... é urgente seguir em frente. Passar à etapa seguinte. Ser coerente. Não olhar para trás.
Faz hoje 7 anos dei entrada numa casa bela. Está-me gravado na pele... tantas conquistas e ainda assim morrer por ser preciso e nunca por chegar ao fim. Às vezes gostava de querer OUSAR menos. Mas não consigo. Foge-me à compreensão. Vou partir em breve. Diz-se que os lugares são as pessoas que os fazem... pois esta que cabe em mim, fez-se maior com este lugar. :)

Jamais esquecerei.
O sabor salgado nas bochechas inchadas... não deixará.