E apesar de amanhã ser dia de tirar o gesso (ou pelo menos assim o espero)... não é isso.
Não é isso...
:P
O tempo ruge e eu... eu só quero inventar trocadilhos, brincar às escondidas com as palavras, inverter as regras, subverter perguntas, verter ideias a favor do inconformismo sem cessar. O tempo urge... e eu só quero exercitar este músculo que bate no centro de mim, indagar pequenas urgências dos dias e rir. Rir muito, rir mais, rir melhor.
Menina por dentro,
uma flor, um rebento.
Por fora mulher,
procurando o que quer.
Menina meiga.
Coração de manteiga.
Trapalhona. Ágil.
Mulher guerreira,
de espada a Verdade,
em luta com os dias,
à procura de liberdade.
Questões, perguntas, respostas.
Desafios, etapas transpostas.
Um circo, a vida. Jazz, o amor.
Menina mulher, mulher menina… cheia de cor.
Há dias dei comigo a escrever mentalmente um poema. Um poema, mesmo. Com palavras a encontrarem-se e a fugirem umas das outras para mais tarde rimarem entre si.
Há dias dei comigo a retirar um pensamento elevado do filme The Simpsons!!! “Às vezes é preciso recuar um pouco para apreciar uma obra de aRte”, dizia a Marge para justificar a falta de razoabilidade do Homer.
Há dias dei comigo entrelaçada no presente a escutar o que o passado me tornou e a indagar o que o futuro me quer ou não reservar.
Há dias dei comigo a constatar que os lençóis (sujos de preferência) dão jeito para uma boa máquina de roupa, avolumada e consistente como se quer.
Há dias dei comigo a perguntar-me como conseguem os intérpretes de surdos-mudos ouvir, traduzir gestualmente ao mesmo tempo que ouvem novamente, para traduzir logo a seguir outra vez… complicado? Imagine-se fazer!!
Há dias dei comigo no quarto a acompanhar uma mosca que entrou disparada, uma daquelas moscas enormes que fazem zumbido e tudo, vulgo varejeiras… saiu mais depressa do que entrou. Tonta. Desenfreada. E eu a ver!!!
Há dias dei comigo sem saber o que fazer.
Há dias dei comigo a fazer aMor às três da tarde e depois às quatro e às cinco e às… só porque sim. Diz que a dimensão espaço-tempo eleva-nos, enleva-nos… e leves, leves... numa leveza sem par, sem pressa de chegar a lado nenhum... surripia-nos os minutos, as horas, os dias. E que dias!!
Por exemplo, conheço quem duvide do seu instinto paternal/maternal e julgue mesmo não o ter ou poder vir a desenvolver. E também quem esteja sempre a insistir em vez de abandonar, pensando que voltar as costas é desistir quando, na grande maioria das vezes é apostar e recomeçar. E quem recuse determinantemente deixar-se levar pelas circunstâncias e/ou supostos acasos e siga as suas regras interiores com medo de perder o controlo… Ou quem planeie a sua vida ao pormenor e sofra angustiosamente imprevistos menores que surgem a todo o momento. Destinados a serem grandes, o maior que podem ser, vivem ainda nos seus limites. Como eu vivo, como toda a gente vive….
O meu sobrinho, que tem 8 anos apenas, está sempre a fazer disparates. Uns mais próprios da idade e imaturidade que outros. Diz quem o acompanha que, apesar da mudança que já se vai construindo no seu coração, reincidirá em muitos comportamentos inapropriados. Que ainda vamos ter muito que lhe ralhar, que o corrigir, que desesperar e exasperar mas acima de tudo teremos de persistir nesta mensagem que ele ainda não sabe: que acreditamos que ele consegue mudar, que ele é capaz. Tem 8 anos apenas.
Quantos de nós não temos também este coração em construção? Este coração de 8 anos, desacreditado do nosso verdadeiro potencial. Que não é mais nem menos que o dos outros. Mas é o nosso!!
Era assim que eu me sentia nos primeiros passos que dei no GTIST. Gorda e balofa por fora, sem nada para gritar, sem nada para denunciar, acusar, debater-me com..... Aprendi que a originalidade/criatividade era um mundo infinito de referências e a que a minha era tão interessante como a de outra pessoa qualquer. Mas a minha era minha. Guardo também que menos é sempre mais. Que a perfeição não existe e muito menos existe o que se designa de a melhor opção. E que não são precisos grandes pensamentos ou rebuscadas preparações prévias para criar, basta sentir e agarrar um momento, escolher uma opção. E não pensar em todas as que ficaram para trás. Até porque para se manter o espírito de seguir apenas o que se sente, não há espaço para grandes divagações mentais. Criar é como pescar. Uns dias temos mais sorte que outros. Mas todos os dias há que lançar as redes, ou a cana, e esperar. Esperar e ver o que acontece. E muitas vezes é no quase marasmo da coisa que algo novo surge. Aprendi também que a sensualidade não estava no meu corpo mas na minha cabeça. Que o olhar é a janela (in)discreta de tudo o que mexe cá dentro e, por isso, se quisesse, se acreditasse, podia até ser uma mosca da fruta, chata e redundante. E que o que é estúpido, aborrecido ou desinteressante aos olhos de um… para outro pode ser a maior revelação. Comunicar por imagens. Levar um soco no estômago. Libertar a ira de alguém. Beijar-lhe uma lágrima…
Tudo isto que vos conto e muito mais valeu-me o grande segredo do manuscrito do dragão. Para perceberem esta têm de ver o filme!!!