sexta-feira, julho 04, 2008

Po... (panda kung fu)

Parecia um filme ligeiro. É um filme ligeiro. Mas deu tanto que pensar...... desde a validade do misticismo e sabedoria oriental (tão ignorados por este ocidente onde me encontro), à grande reflexão que fiz em tempos sobre educar versus ensinar no quarto ano da faculdade. Passei pelas expectativas exteriores a quem julgamos dever obediência, e pelas vozes, igualmente exteriores que, não sabendo bem porquê....... acabam sempre por falar mais alto até algum instante da nossa vida. Aquele instante em que finalmente nos voltamos para dentro, aquele instante em que verdadeiramente me olhei e escutei. Espreitei o GTIST e o GAPsi e sorri ao verificar esta evidência... lugares e pessoas que, sem saberem, me ensinaram a ser mais eu. Ou eu simplesmente.

Não sei ainda tudo quanto tenho cá dentro. E amanhã é um mistério. Mas quero esperá-lo. Duvidá-lo. Agradecê-lo. Aceitá-lo. Missões? Para já acredito nesta: o desenvolvimento humano, o meu e o dos outros, é para mim uma prioridade. Gosto de pensar que se outros já cá estiveram por mim, para mim, atentos à bomba-relógio que sempre me senti enquanto crescia... quero eu agora estar lá para eles. Não por achar ter algo importante para dizer... ou querer impingir alguma Verdade, a minha Verdade… mas por sentir que o amor vai e volta, sai e regressa a nós e como uma dádiva não se pode conter. Somos demasiado pequenos para o guardar, armazenar. Sou demasiado pequena. Para além disso acho, genuinamente, que consigo ler as pessoas e perceber algumas das suas fragilidades/forças que podem potenciar tudo o que lhes está destinado ser.

Por exemplo, conheço quem duvide do seu instinto paternal/maternal e julgue mesmo não o ter ou poder vir a desenvolver. E também quem esteja sempre a insistir em vez de abandonar, pensando que voltar as costas é desistir quando, na grande maioria das vezes é apostar e recomeçar. E quem recuse determinantemente deixar-se levar pelas circunstâncias e/ou supostos acasos e siga as suas regras interiores com medo de perder o controlo… Ou quem planeie a sua vida ao pormenor e sofra angustiosamente imprevistos menores que surgem a todo o momento. Destinados a serem grandes, o maior que podem ser, vivem ainda nos seus limites. Como eu vivo, como toda a gente vive….

Não tenho o poder de intervenção divina, graças a Deus!!! Mas se puder ser alguma luz no nevoeiro, brisa suave no calor, calma nas águas revoltas de um rio, esperança no desespero… eis-me aqui!!

O meu sobrinho, que tem 8 anos apenas, está sempre a fazer disparates. Uns mais próprios da idade e imaturidade que outros. Diz quem o acompanha que, apesar da mudança que já se vai construindo no seu coração, reincidirá em muitos comportamentos inapropriados. Que ainda vamos ter muito que lhe ralhar, que o corrigir, que desesperar e exasperar mas acima de tudo teremos de persistir nesta mensagem que ele ainda não sabe: que acreditamos que ele consegue mudar, que ele é capaz. Tem 8 anos apenas.

Quantos de nós não temos também este coração em construção? Este coração de 8 anos, desacreditado do nosso verdadeiro potencial. Que não é mais nem menos que o dos outros. Mas é o nosso!!

O Po é um Panda gordo e balofo, nunca poderia ser o Guerreiro Dragão. Então e a agilidade de movimentos, a delicadeza de gestos, a força muscular de um corpo seco e cirurgicamente trabalhado……..? E o nome? Po??? Tão simples, que horror!!! Nã!!!

Era assim que eu me sentia nos primeiros passos que dei no GTIST. Gorda e balofa por fora, sem nada para gritar, sem nada para denunciar, acusar, debater-me com..... Aprendi que a originalidade/criatividade era um mundo infinito de referências e a que a minha era tão interessante como a de outra pessoa qualquer. Mas a minha era minha. Guardo também que menos é sempre mais. Que a perfeição não existe e muito menos existe o que se designa de a melhor opção. E que não são precisos grandes pensamentos ou rebuscadas preparações prévias para criar, basta sentir e agarrar um momento, escolher uma opção. E não pensar em todas as que ficaram para trás. Até porque para se manter o espírito de seguir apenas o que se sente, não há espaço para grandes divagações mentais. Criar é como pescar. Uns dias temos mais sorte que outros. Mas todos os dias há que lançar as redes, ou a cana, e esperar. Esperar e ver o que acontece. E muitas vezes é no quase marasmo da coisa que algo novo surge. Aprendi também que a sensualidade não estava no meu corpo mas na minha cabeça. Que o olhar é a janela (in)discreta de tudo o que mexe cá dentro e, por isso, se quisesse, se acreditasse, podia até ser uma mosca da fruta, chata e redundante. E que o que é estúpido, aborrecido ou desinteressante aos olhos de um… para outro pode ser a maior revelação. Comunicar por imagens. Levar um soco no estômago. Libertar a ira de alguém. Beijar-lhe uma lágrima…

Tudo isto que vos conto e muito mais valeu-me o grande segredo do manuscrito do dragão. Para perceberem esta têm de ver o filme!!!